Certamente você já deve ter lido sobre algumas divergências de opiniões quanto ao Culto Infantil. Algumas pessoas acreditam fortemente que crianças precisam ficar no culto junto com os adultos, para aprenderem a ficar quietas e ouvirem a palavra de Deus. Essas mesmas pessoas são totalmente contra o culto infantil e creem que as crianças entendem a mensagem que o pastor prega e que é inegociável que elas estejam junto à igreja para se sentirem parte da Igreja, além de compreender como ela funciona. Outras pessoas acreditam que a beleza do “Culto Infantil está justamente nisso: a lição bíblica é dada em uma linguagem que as crianças compreendem, com ilustrações que fazem sentido ao mundo e cognitivo delas.” [1]

Agora, convido você a imaginar, por um momento, a vida no oceano. Esse vasto ecossistema abriga uma rica diversidade de animais marinhos, flora e enfim, todo um ecossistema além de processos que acontecem continuamente, a fim de manter o equilíbrio debaixo d’água. Ali, encontramos diferentes espécies de peixes: os rápidos e os lentos, os grandes e os pequenos, os que exploram profundidades e os que preferem ficar na superfície. De forma similar, no culto infantil, algumas crianças avançam rapidamente, absorvendo e aprofundando seu entendimento, enquanto outras enfrentam desafios para acompanhar, permanecendo na superfície em muitas ocasiões.

É fundamental compreender que as crianças que aprendem a um ritmo mais lento ou que enfrentam dificuldades não fazem isso por escolha própria; está em sua natureza. Às vezes, essas crianças são injustamente rotuladas como preguiçosas, quando na realidade podem estar enfrentando obstáculos temporários ou até mesmo transtornos que afetam seu processo de aprendizado. Essa diversidade faz parte da natureza de algumas crianças.

Quando os pais recebem o diagnóstico de um transtorno em seus filhos, é comum que se sintam desorientados, muitas vezes sem conhecimento sobre como abordar a situação. Como resultado, muitos deles buscam ativamente informações para auxiliar seus filhos a alcançar um desenvolvimento saudável em seu aprendizado. Enquanto isso, o maior desafio para essas crianças é a inclusão, que abrange a escola, diversos espaços na sociedade e a igreja. Existem vários tipos de transtornos mentais, cada um com suas características específicas, afetando pensamentos, percepções, emoções e comportamento. Alguns exemplos incluem depressão, transtorno afetivo bipolar, esquizofrenia, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, como o autismo.

Quando me deparo com essa situação, me lembro do grande exemplo: Jesus! Ele demonstrou grande zelo em sua missão de enfrentar o caos social de sua época, e nós, como seus discípulos, devemos seguir seu exemplo. Isso implica desenvolver empatia, reconhecer as necessidades das pessoas, dialogar com elas e acolhê-las, especialmente aquelas que se encontram em situações vulneráveis devido ao caos social da nossa era. Portanto, é fundamental que nenhuma criança com um diagnóstico seja discriminada devido às suas dificuldades e que não seja impedida de participar de lugares, principalmente da igreja, e mais especificamente do culto infantil.

Outro exemplo esclarecedor que ilustra a importância da inclusão na Igreja encontra-se no livro de 2 Samuel 9.1-10. Nessa passagem, vemos Davi indo além da mediocridade, ao acolher um homem com deficiência em sua casa, proporcionando-lhe um lugar na mesa e, assim, restaurando sua dignidade. Se estivéssemos na atualidade, Davi provavelmente estaria oferecendo a Mefibosete a oportunidade de participar plenamente da vida da igreja, e se fosse criança, certamente estaria incluindo-o no culto infantil. Há ainda muitas pessoas que anseiam por ter um lugar à mesa, uma presença na igreja e uma participação ativa no culto infantil.

Para enfrentar essa nobre missão, é essencial buscar informações detalhadas sobre as preferências e o comportamento de cada criança, criando uma estrutura sob medida para atendê-las. Cada diagnóstico é único, com suas particularidades, e é nosso dever aprender a melhor maneira de ensinar, cumprindo, assim, nossa missão no Ministério Infantil. Por exemplo, o uso simples de programação visual pode se tornar uma ferramenta valiosa para antecipar o que ocorrerá durante a programação. Além disso, quando uma criança estiver agitada, é fundamental fornecer explicações claras e concretas sobre as próximas atividades, utilizando uma linguagem adaptada à compreensão dela.

Todavia, infelizmente, ainda existem pessoas que não enxergam com bons olhos as características naturais das crianças, com ou sem deficiências, como sua curiosidade e sua tendência a correr e gritar. Esse incômodo não é novo; até nos tempos de Jesus, isso ocorria. A Bíblia nos relata um episódio em que os discípulos ficaram incomodados com a presença de crianças próximas a Jesus, e Ele os instruiu a deixar as crianças se aproximarem e não as impedir. Assim, é preciso compreender que, como seguidores de Jesus, precisamos seguir essa ordem, levando as crianças até ele e não as impedindo de fazê-lo, independentemente de suas condições ou estágios de desenvolvimento. Por isso, assim como Jesus, precisamos ir aonde tem pessoas que necessitam do amor de Jesus, e isso inclui as crianças com diagnósticos especiais. Precisamos romper com as concepções excludentes.

Jaqueline Bresch
Missionária de crianças da CBP


[1]GRAÇA EM FLOR. Culto infantil: ter ou não ter? Disponível em: https://gracaemflor.com/culto-infantil-ter-ou-nao-ter/ . Acesso em:  29 mar. 2023.