João 19.28-30

É um paradoxo! Na nossa mente, morremos exatamente porque perdemos o controle – isso porque imaginamos ter algum controle sobre a nossa vida.

Jesus aparentemente perdeu o controle. Quando olhamos para o julgamento de Jesus, verificamos que foi uma farsa sem tamanho: julgado na calada da noite, jogado de um lado para o outro como uma vítima inocente e indefesa; condenado por um crime religioso como se fosse um crime político, com todos os fatos da sua vida manipulados. Parecia que Ele estava à mercê!

Mas a leitura mais minuciosa do Evangelho de João vai nos mostrar que Jesus jamais perdeu o controle. Ele permaneceu olhando de cima para baixo para todos eles, sabendo que o que acontecia era o plano de Deus, e por isso se submeteu! Vemos isso desde o capítulo 18: na hora da prisão Ele não se escondeu, mas se apresentou aos soldados; não deixou com que levem seus discípulos; ao restaurar a orelha do soldado, Jesus mostrou que não precisava da ajuda; para Anás afirmou que tudo o que havia ensinado foi feito em público, e ninguém O havia prendido por isso; diante de Pilatos questionou se os argumento do líder político eram dele ou dos opositores de Jesus, demonstrando que o poder que este líder detinha lhe foi dado por Deus; na cruz, em plena agonia, Ele continuou sendo Senhor, realizando a vontade de Deus e morrendo no momento em que Ele quis (Salmo 22). Não foi um acidente! Foi proposital.

Porque um Deus que poderia não ter morrido, escolheu morrer? Porque Ele, estando no controle absoluto, permitiu que temporariamente alguns assumissem controle sobre Ele e Ele obedeceu?

1. Ele aplicou sobre Si o pecado que era nosso, uma demonstração de amor por nós:
O nosso problema é o pecado, no singular. Pensar em pecados (no plural) diminui a grandeza da ação de Cristo. Paulo, em Romanos 7.24, lamenta “que miserável homem que eu sou”, e não que miseráveis coisas que eu faço! Há um estado de natureza horrível. Nós estávamos condenados pelo fato de vivermos a nossa própria vontade, segundo os nossos interesses, e quando, na eternidade, Deus olhou para nós e viu que sairíamos de perto dEle para vivenciarmos a morte, Ele decidiu não nos deixar lá! Ele estabeleceu a sentença para o nosso afastamento e pagou o preço estabelecido.

Precisamos entender que quando nós nos afastamos de Deus, alguém precisou pagar o prejuízo. Não foi como na brincadeira do “passa adiante”. Deus não passou para frente o nosso pecado. Ele morreu por nós e a morte de Jesus aponta para o grande amor de Deus que nem sempre é compreendido por nós: porque vivenciamos a experiência de ser igreja? Pelo que Deus fez ou há alguma possibilidade de pertencermos a este grupo pelo medo que temos de Deus? Se Jesus não tivesse morrido não poderíamos nos reunir para cantar, pois estaríamos apavorados, com medo do momento em que Ele irá executar o juízo! Aqueles que entendem a grande graça manifesta na cruz querem dar tudo de si; quem não entende faz conta, pois não faz sentido entregar tudo a uma pessoa que nos dá medo.  

2. Jesus morreu para ampliar a nossa perspectiva de relacionamento com Ele
Se Ele não tivesse morrido, continuaríamos esperando Ele fazer os milagres, no protegendo, mantendo nossa casa em ordem, não permitindo que algo de mal nos aconteça. Muitos entram em relacionamentos assim, esperando isso da pessoa com quem dividem a vida. Esperam que ela atenda todas as suas necessidades em anseios.

O real relacionamento não parte daquilo que precisamos, mas porque escolhemos viver com estas pessoas (até precisamos, mas a decisão vem primeiro e é muito mais importante). Eu não vivencio a realidade da igreja porque preciso de Deus, embora precise; não estou faço o que faço para que Ele resolva meus problemas, embora Ele me livre de muitos. Eu escolhi andar com Deus e viver com Ele, pois esta é a melhor vida que posso viver, mesmo quando Ele não resolve meus problemas e me deixa passar por dificuldade, demorando para agir. Deus não está mais fora de mim, mas habita em mim e me leva a agir por Ele. Não sou mais o que espera Ele fazer, mas faço com Ele. O Evangelho de João é o que menciona de forma muito clara o Espírito Santo, mostrando um relacionamento mais profundo.

A grande questão é se de fato entendemos o Seu amor e o relacionamento que Ele quer ter conosco! Quando Deus olha para o mundo, vê um caos! E quando Ele bate o olho em você, Ele enxerga parte do problema ou a parte da solução? Ele vê o menininho mimado pedindo que Ele faça algo ou vê uma pessoa de joelhos dizendo: conte comigo! Como posso cooperar contigo Senhor?

Já não há mais medo, mas pleno envolvimento com Ele! Mesmo estando no controle da situação, Ele morreu por isso!

Pr. Josemar Valdir Modes